16.5.06

Inspiração

Uma folha em branco seria sempre uma folha em branco se não fossem as musas. E seus sorrisos e risos, e seus olhos brilhosos, e seus corpos formosos, e suas línguas escusas.
A razão de existir de uma folha em branco é nula. A razão de existir de uma folha com sentimentos rabiscados é eterna. É claro que a eternidade é efêmera, mas não há necessidade de que seja mais do que isso, tão efêmera é a própria vida em si.
E ninguém sentiria falta de uma folha em branco, arremessada sem piedade numa cesta de lixo. Uma folha transbordando de emoções, no entanto, resistiria bravamente à pressão dos dedos e é possível até que chorasse e desafiasse a física para não ser posta de lado - com persuasividade invejável, é muito possível até que convencesse a ser trazida de volta à escrivaninha para ser desamassada e restaurada.
Uma folha em branco reflete a luz. Uma folha coberta de grafite ou titna de caneta reflete a alma. Uma folha em branco pode até significar paz. Uma folha guardando linhas trêmulas pode ter trazido a paz. (Ah, se em todos os casos isso fosse suficiente para levar à paz.)
Uma folha em branco seria sempre uma folha em branco se a vida fosse um livro em branco - de capa branca costurada com linha branca. Mas à luz dos teus olhos o mundo toma forma e cor - e se eu fosse fazer disso poesia rimada, minha rima.
09.Mai.2006

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