19.10.06

Cheiro de Naftalina

Atrás da fumaça do milésimo cigarro do dia, paro para mais uma tragada e por acaso me lembro de como odiava cigarro quando era criança. Era quase uma alergia, um tal de tosse-tosse de envergonhar qualquer mãe, por mais anti-tabagista que fosse.
Deixei o pensamento voar, correr livre pelas ruas asfaltadas onde jogávamos futebol entre um carro, outro e um vizinho mal-humorado que sempre ameaçava não devolver a bola da próxima vez. (Aliás, preciso entregar a do Ângelo, que já está no quintal lá de trás há mais de uma semana).
Cansado de correr, meu pensamento foi se deitar na rede da garagem e se espreguiçou preguiçosamente até as férias de verão; jogou bola na praia e, já mais descansado, correu atrás do guarda-sol até chegar na piscina do prédio de um dos muitos melhores amigos que tínhamos na infância. Deu um salto mortal e caiu em cheio no sofá da sala, com um pacote de bolacha recheada na mão e uma primeira gargalhada com um desenho animado daqueles tempos.
Pegou no sono e acordou numa rápida adolescência colegial, com a voz de um professor que recitava: "ah!, que saudades que tenho da minha infância querida, da aurora minha vida que os anos não trazem mais".
Dormiu pensando no cheiro do cabelo daquela garota linda da carteira da frente e acordou com o celular. Achou que era um amigo da faculdade chamando para a cervejinha-santa-de-todo-dia. Mas não era.
- Como é, Hedgard, o deadline já venceu, aquela crônica saiu ou não sai?
Apago o cigarro e penso que talvez eu devesse parar de fumar.
Aug.8th.2006

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