19.10.06

Menos uma de amor

Não bastassem as capas dos jornais com suas clássicas e exaustivas manchetes sobre vendas no dia dos namorados, ainda há aqueles que se propõem a escrever sobre o tema. Acredito que é sempre uma idéia ruim, mas não tenho idéia melhor. Pra piorar, aprofundo o lugar-comum e falo sobre o dia dos namorados dos sem-namorados. Só porque faço parte do grupo, e um sem-namorado no dias dos namorados quer mesmo estar centrado no próprio umbigo, fingindo estar feliz com ele.
Meu umbigo, aliás, seria um bom namorado. Meu umbigo não precisaria de jantar caro mas saberia aproveitar um banho quente com sais relaxantes. Meu umbigo não reclamaria de eu olhar pra outros umbigos - afinal, quem não gosta de olhar outros umbigos? - e na verdade ele ficaria até bem feliz de ter algum outro umbigo junto a si. Meu umbigo nasceu no mesmo dia que eu e não esqueceria meu aniversário - nem ficaria chateado se eu esquecesse o dele, porque com certeza não faltariam cervejas para comemorar. (Meu umbigo também não reclamaria das minhas dores de cabeça nem dos meus ataques de hiper-libido, imagino).
Pena que não namoro o meu umbigo. Infelizmente, ele não sabe beijar, não faz idéia de onde fica o ponto G, não diz coisas românticas ao pé do ouvido (!) e nem mesmo me liga pra tomar uma cerveja.
Mas eu falava do dia dos namorados para os sem-namorados. Existem três tipos de sem-namorados. Os que não têm, não querem ter e juram que nunca terão; os que não têm mas dariam tudo pra ter; e os que não tem e nem mesmo lembram quando é o tal do dia. Você vai encontrar todos eles numa mesa de bar, na noite do dia D, rindo e se divertindo e discordando sobre namoros. Afinal, dia dos namorados é quase metalingüístico, e a discussão sobre o dia sempre cai na roda. E depois de muitas voltas, se perde numa curva entre um brinde e o próximo copo.
Os sem-namorados sempre acham que estão se divertindo mais que os com-namorados. E vice-versa. (Apesar de que os primeiros não fariam oposição alguma a um pouco de sexo, enquanto os segundos prefeririam uma cerveja àquele jantar caro, digo, romântico.) De fato, o causo todo pouco importa. Gastam-se palavras nesse ano, vãs palavras contra a manhã. E amanhã elas serão postas de canto, vão embrulhar peixes frescos, e só serão recicladas no próximo junho, quando acabarem as férias de Santo Antônio e, justo na véspera de seu dia, alguém ter a desinteressante idéia de fazer outra a crônica a respeito.
Desculpem se não concluo o raciocínio, mas ainda é preciso achar uma loja aberta e encontrar alguém que saiba dar um nó de gravata decente, porque eu, entre uma palavra e outra, acabei por me enforcar. O leitor se pergunta agora se leu errado quando eu disse que fazia parte do grupo dos sem-namorados – é que existe aquele tipo de com-namorados que faz questão de se dizer sem-namorados. A coisa toda ainda é uma incógnita taxonômica, mas infelizmente eu preciso mesmo ir.
Feliz dia dos namorados.
Jun.29th.2006

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