19.10.06

Semanas Assim

Existem semanas em que a imprensa se sente sufocada e à beira de um ataque de nervos. O congresso está de recesso, os presidenciáveis estão se preparando para mais uma semana de campanha, a polícia não tem nada de interessante, o dólar não sobre e nem desce, as guerras do oriente médio não detonam bomba nenhuma e os grandes campeonatos nacionais já foram ou ainda estão por vir. Em semanas assim, os cronistas têm uma certa liberdade temática.
E aquela era uma "semana assim". Por coincidência, eu e um colega do Estadão escrevemos sobre o mesmo tema. Duas semanas antes, aliás, abordáramos o mesmo enfoque em textos sobre a Copa de 2014 no Brasil; por sorte, nos encontramos num café pouco antes do fechamento e achamos por bem tentarmos pontos diferente. Dessa vez, no entanto, o azar entrou em campo e os ombudsmans também. "Amigos, amigos; negócios à parte", escreveu o do meu jornal; "compartilhar a máquina de café, ainda vai; mas as pautas, pelo menos, podiam ser diferentes", comentou o do Estadão.
A verdade é que, em "semanas assim", até os cronistas têm falta de idéias.
Mas o leitor se pergunta sobre o que escrevemos. Pode parecer mentira, mas escrevemos justamente sobre coincidências. Ele, sobre a incrível coincidência de uma testemunha de acusação de um caso da época ter se suicidado - morte por asfixia, segundo o obituário - na mesma semana em que o acusado viajava de férias a Paris. Eu comentava sobre outra incrível coincidência, a da aprovação da lei que obrigava as lojas a terem extintores de incêndio quadrados - fabricados por somente uma empresa no país, de propriedade de 4 deputados federais e um senador.
Agora, é claro, o leitor se pergunta de onde vem esse falatório todo; todas essas notícias velhas na página deste jornal. É que outra coincidência me fez retornar ao tema.
Um amigo, aprovado para o doutorado, precisava de duas teses para concluir uma fase da pesquisa. Apenas duas, de uma biblioteca setorial com 399 volumes. Nas estantes, na mais perfeita ordem que uma biblioteca poderia estar, faltavam apenas dois volumes, emprestados há mais de um mês: o número 082 e o 091. Pode, de novo, parecer mentira, mas eram exatamente os volumes procurados.
Mas esta crônica não pretende apresentar nenhuma tese específica sobre o assunto. É apenas algo que intriga, todas essas coincidências. Eu e meu amigo do Estadão usamos de ironia para comentar as coincidências da época, mas o caso desta vez foi diferente. E, de fato, não sei o que pensar. Pense você, leitor, enquanto eu me preocupo com a crônica de amanhã - por que, está claro, esta é mais uma "semana assim".
Jul.14th.2006

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