25.2.04

Caminhando na Praia

Estava caminhando na praia, areia fofa, o mar gelado, a brisa fresca. Era uma linda noite de outono, com a lua azul no céu banhando o oceano.
Todo o amor que tivera dentro de si, agora desaparecera. Dentro de sua cabeça tudo se confundia, e o mundo parecia que pesava sobre seus ombros.
As ondas beijavam-lhe os pés, que caminhavam incessantes pela praia. Não sabia o que fazer, não tinha a menor idéia de onde ir, não tinha nada nem ninguém em mente.
Toda a vida aprendera que amar é mais importante que tudo, e agora isso. Não sabia como agir numa situação assim, e toda vez que tentava achar uma saída se perdia cada vez mais no labirinto de seus pensamentos.
O esgotamento físico lhe abateu. Sentou na areia fofa e sentiu o cheiro do mar. A brisa soprou mais forte e fria, e um arrepio subiu pela espinha. Não pelo frio, mas pelas lembranças.
Aquela praia, aquele vento, aquele mar, aquela areia... ah!, aquela areia... lembrou-se do dia em que rolaram juntos pela areia, beijando-se e abraçando-se, e sentindo que nada mais no mundo interessava a não ser os dois e o amor que sentiam um pelo outro.
Droga! Será mesmo que tudo fora só um sonho de uma noite de verão? Será que fora um sonho infantil, uma ilusão, ou só mais uma ilusão amorosa? Por que tudo tinha que ser daquele jeito? Ou melhor, será que era mesmo daquele jeito?
Perdeu-se no seu pensamento. Pensava em mais coisas do que seria possível descrever, mil idéias.
Do outro lado, na mesma praia, semelhante silhueta caminhava, também a beira do mar, sentindo as ondas chegando à areia e a lua azul banhando o mundo com sua luz melancólica.
Seria mesmo desnecessário descrever o que sentia por sua vez esta sombra, pois tudo, tudo o que tinha em seu coração e em sua mente, sem que soubesse, espelhava exatamente o que já foi notado no primeiro vulto.
Desconhecidos do que preparara para eles o destino, puseram-se ambos a andar e pensar, talvez tentando mesmo descobrir qual seria a próxima apunhalada da vida, ou o que seria de seus futuros. Sem que soubessem, inconscientemente se dirigiam para o mesmo lugar, a mesma areia fofa que acolhera tão gentilmente seus corpos em tão feliz momento que viveram. Sem que pudessem imaginar, o destino os colocava novamente frente a frente.
Cabeça baixa, pernas tremulas, olhos lacrimejantes; nada viam, nem lhes interessava ver. Só seguiam em frente porque alguma coisa dentro de si dizia que deviam continuar.
Num gesto lento e desnorteado, ergueram os olhos, e eis que se depararam um com o outro. Os olhares se encontraram e, calados, puderam ler tudo o que sentiam. Sem que fosse necessários dizer uma palavra sequer, sem que fosse necessários um grito, um gesto, um som; uma ofensa, uma mágoa, uma desculpa. Uma lágrima escorreu silenciosa no canto do olho de cada um, e foi o que bastou. Tocaram-se, e a mágica de seus corpos os envolveu lentamente, fazendo com que seus corações disparassem e se acalmassem, com que o ar pudesse lhes entrar livremente e eles não conseguissem respirar, com que o amor brotasse de novo em seus corações como uma árvore centenária.
Nada foi dito, apenas feito; nada de palavras para magoar e ferir, apenas beijos para acalmar e curar; nada de raiva, pena ou compaixão, apenas amor, amor e amor. Só.
A brisa soprava aconchegante, o mar gelava os dois pares de pés que caminhavam a beira da praia, e ao longe, atrás de algumas montanhas, podia-se notar o sol nascendo e seus raios abençoando o novo velho amor naqueles dois jovens corações.

13/Mai/2002