25.2.04

VIDA de Guna

E corria, corria, menina a correr. Depois sentava na pedra, e sentava na grama, e na grama deitava, sorrisonha, piscante como ela só. E dali a pouco arregalava os olhos, apontava pra mim e dizia:
- Bruxa, Dona Lua! Cuida que a bruxa vem pegá!
E corria, corria, mãemãe chamava; falava, falava e falava e a mãemãe vai brincar, ocupada com o jantar. E Guna (Buguna, Bruna) paipai lá ia chamar. Bruxa, bruxa!, paipai a trabalhar. E lá ia menina pra casa voltar.
E dormia a noite, e acordava o dia, e antes ainda que me fosse deitar, menina eu ouvia dizer:
- Mãemãe, olha o passarinho avoador! Tá piupiuzando!...
E mãemãe, roupa a lavar, lava-lava-lava, não via o Perseu de Guna cantar. E paipai nem ouvia Guna gritar: - Tchau Solinho!, quando o sol me dava lugar; e do céu eu ouvia muá!, Guna beijinhos a estalar, mãemãe, paipai, ursinha Biloca. E paipai do céu, protegedor da minha família, brigado pela mãemãe e pelo paipai que a mim me deu!
E antes ainda que me fosse repousar, escutava menina perguntar:
- Quer ajuda, mãemãe? A Guna pode cafezar... - Xispa, menina, ela tem que trabalhar.
E foi nos 6 que passaram, e foi nos 6 anos que vieram que Guna aprendeu a viver, e viveu. E mãemãe e paipai ocuparam-se demais em trabalhar, não viveram nem aprenderam, nem viram menina viver a aprender.
E paipai um dia morreu; Guna 13 anos tinha e chorou-me as mágoas, abandonando meu consolo em busca do da mãemãe, xispa, menina! E Guna não mais corria, à grama não deitava mais, nunca mais a vi sorrisonha e piscante como antes. Mãemãe, a Guna tá com dor aqui, mãemãe! Quando casar passa, passa, menina!
E mãemãe tinha muito que trabalhar, não dá pra brincar, vá estudar, sem perceber que Guna não ia mias à Escola. E mãemãe tinha mais o que fazer, levante e vá comer, nem viu que menina não mais levantou.
E os vizinhos tiraram o corpo de Guna da casa ouvindo mãemãe, Guna, vai brincar. E levaram o caixão ao cemitério sem conseguir levar mãemãe, deixa menina passear.
E menina, e paipai, já fugidos, deixam à loucura dividir a casa com mãemãe, Guna, vai brincar, xispa menina!...

2002