25.2.04

(sem título 1)

O sol alaranjado ia se pondo por detrás daqueles prédios, irradiando sua luz em despedida às flores caídas no gramado. Sob a árvore verde da plena primavera, flores brancas misturavam-se às folhas secas do último outono, que ninguém recolhera. As janelas fechadas não deixavam passar o vento suave que batia e balançava melodiosamente as folhas das árvores, assobiando e formando uma canção jamais escrita por ninguém. As cores melancólicas do fim de tarde se misturavam sob a luz já avermelhada do sol, e formavam um quadro que ninguém jamais pintou. O gramado verde e crescido se espalhava por todo terreno, não deixando descoberto nem um centímetro daquela terra de barro, apagando do chão as marcas jamais vistas dos passos que passaram por ali. Nem os menores insetos que viviam naquelas terras tinham vida; as arvores, as folhas, a grama, as lajotas do caminho, e até as flores brancas eram frias, mortas, como o vento fino que batia ali, como a chuva fresca que molhava aquele chão, como o sol quente que regava aquelas plantas, e como a alma que ela tivera antes de cravar um punhal de prata no peito, já há muito triste, negro, morto!...

2002