25.2.04

Por um futuro melhor

- Só mais um mês, mamãe.
A mãe não gostou quando Caroline veio com a idéia do curso de barman, mas a menina estava há meses que não conseguia um emprego decente. Agora, trabalhava numa loja do bairro, ganhando um salário miserável. Pelo menos, pensou a velha, com o curso ela pode ganhar mais, quem sabe a gente não melhora de vida? E assim justificou.
O curso era à noite, do outro lado da cidade, mas valeria a pena. Agora só faltava um mês, Carol não cansava de repetir. E depois duas semanas, e uma, e um dia ela simplesmente chegou em casa com o certificado.
- E não vai ter festa de formatura? - a velha, pensando no coquetel.
- Ah, mamãe, a escola é simples. E nem dá pra reclamar, pelo preço que eu paguei... - desculpou-se a menina, guardando o papel numa pasta vermelha e gasta, no meio das certidões de nascimento das cinco crianças da casa, a de óbito do pai, as receitas médicas da mãe. - Amanhã de noite eu já vou lá procurar emprego. -anunciou.
Mas de noite? A mãe não gostou. Não era hora de menina direita estar na rua, ela não permitiria. E emburrou. Carol revirou os olhos, mais essa ainda, e disse que era a hora que as casas noturnas (ela fez questão de frisar bem) abriam, era a hora que tinha de falar com eles.
E por quase duas semanas a menina saia do emprego, vinha em casa tomar banho, mudar de roupa; depois tomava o ônibus e ia, incansável. Um dia, comunicou:
- Consegui. - sem nenhuma emoção.
A velha ergueu os olhos da renda de bilro, parando um instante e voltando logo em seguida com o movimento louco das pecinhas de madeira; resmungou alguma coisa e calou. Resmungou de novo, Carol sentada na mesa da cozinha, uma xícara de café nas mãos.
- Muito que bem. - disse a mãe, os dedos loucos pra lá e pra cá. - Muito que bem.
Era a aprovação, mas a contragosto. O salário, pelo menos, devia ser bom, a menina não aceitaria pouco, a velha de si pra si.
E Caroline virou Samantha, 30 reais, serviço completo.

03/Set/2003