25.2.04

Verdes como os seus

Acho que nunca vi os olhos dele brilharem tanto quanto naquele dia. Você precisava ver. O rosto dele se iluminando num sorriso meigo, os olhinhos verdes apertados. E correu, feliz, de volta para o quarto.
Desde jovem eu morava sozinha, dividindo o apartamento. Primeiro, um professor de informática; em seguida um breve semestre com um garoto fugido dos pais, e os últimos sete anos com Jorge, um técnico em computadores que fez de seu quarto um depósito gigante. Enfim, me acostumei com os computadores.
Naquele dia o pequeno veio da aula com um ponto de interrogação na testa. Não literalmente, embora não fosse me admirar. Quando me perguntou, seus olhos estavam atentos, ansiosos. Verdes.
- Computador. A primeira palavra que você disse foi computador.
- Nossa, mãe! Uma palavra tão grande?
- Você é grande, menino. – e sorri, da felicidade do meu pequeno, desde sempre, e justificavelmente, fissurado por computadores.
Não foi uma mentira completa, sabe; computador foi a segunda palavra que ele disse. Além do mais, eu não teria como explicar que a primeira foi seu nome, de tanto me ouvir falar em você.

28/Out/2003