25.2.04

A Guerra do Lápis e da Borracha

Na sua adolescência, o lápis vivia uma época conturbada, com a chegada repentina das lapiseiras do norte. Para ele, as lapiseiras eram como lírios mortos na pintura de um desenhista fracassado.
Quando conheceu a borracha, seu primeiro sentimento foi o ódio, achando-a chata e sem graça. Mas com o passar do tempo, e com a convivência incessante naquele penal desmoronado, acabou se apaixonando.
O lápis gostava de ser daquele penar, pois achava as canetas de lá muito legais. Mas por que era de lá? Como, se a princípio a odiara, agora podia amá-la?
A borracha sentia-se da mesma forma; gostava de apagar o que o lápis escrevia apenas para poder ficar perto dele. Gostava quando usavam canetas pois ela podia ficar sozinha com o lápis. E dali surgiu um romance, que acabou acabando sem que nem porque.
Mas o lápis já tinha se tornado dependente da borracha. Fazia tudo errado, inconscientemente para poder precisar dela. A essa altura do campeonato, não mais que as lapiseiras estivessem tomando o mercado. Nada importava. O lápis se escondia dentro de livros, atrás de porta-lápis, no canto das gavetas.
E essa história não terminou até hoje. Todo lápis tenta se convencer que odeia a borracha, quando no fundo, ela é apenas quase uma razão para existir.

13/Mai/2002