25.2.04

Secretária Eletrônica

O telefone tocou. Eu estava com os pés dentro da bacia d’água, pra fazer as unhas. Dois toques e entrou a secretária eletrônica (afinal, eu nunca estava em casa, por que deixaria o telefone tocar mil vezes antes da máquina apitar?). A questão é que agora eu estava, milagrosamente, em casa: com os pés molhados e quase caindo da cadeira pra alcançar a toalha.
- Hm, garota brasileira? Aqui é o cara do cinema...
Ei, espera um pouco. Você sabe o que é ter de ir ao cinema sozinha por estar em um país estranho? E o cara, todo bonitinho, do meu lado, sem saber como puxar conversa ao fim do filme. E, no fim, quem pe que tentaria cantar uma menina estrangeira só pra conseguir o telefone e passar trote? Bom, fato é que eu não esperava que ele ligasse: e agora roia as unhas pensando no que ele diria a seguir.
- ... eu... não sei como explicar... bom, eu aprendi a dizer na sua língua...
No meu idioma, foi o que ele quis dizer (o Brasil é um dos únicos lugares onde você beija um desconhecido na boca logo quando o conhece). E, no meu idioma, depois de uma pausa, ele falou devagar e com cuidado na pronúncia: “eu estou apaixonado por você”.
Depois disso, passei a gostar mais da fria Irlanda.

29/Jan/2004